Para quem acha que vida de professor é moleza, aqui vão alguns dados de pesquisa realizada recentemente pelo Sindicato dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul, o Sinpro/RS. Foram escolhidas professores de 23 instituições, distribuídas em 9 regiões do estado, procurando manter um equilíbrio entre instituições de ensino básico e de ensino superior e entre participantes do sexo feminino e masculino, atingindo um total de 230 entrevistados. Deste total, 31% homens e 69% mulheres. De todas as conclusões, destaco duas: professor precisa ter tempo para ser professor e Professor precisa ter saúde para ser professor.
Abaixo, resumo da pesquisa. É longo, mas vale a pena:
1 Assédio moral (humilhação e constrangimento no trabalho)
As principais fontes de assédio moral no trabalho docente indicadas pelos professores são: alunos (33%), chefes imediatos (31%), chefes superiores (31%), colegas professores (23%), pais de alunos (19%) e demais funcionários (10%).
Merece destaque, ainda, o alto índice de docentes que se sentem pressionados excessivamente no trabalho por chefes superiores (35%), chefes imediatos (32%), alunos (27%), colegas professores (14%) e pais de alunos (14%).
2 Tarefas fora do horário de trabalho:
Essa situação é agravada pelo fato de 70% dos professores sempre ou freqüentemente realizarem tarefas docentes fora de seu horário de trabalho, muitas vezes em prejuízo de seu horário de lazer e descanso. É importante destacar que 74% exercem mais de 8 horas por semana de atividades docentes (preparação, correção, atividades extraclasse) sem remuneração adicional.
3 Condições de saúde
3.1 Em que medida você tem oportunidades de atividade de lazer?
Em relação ao lazer, 38% dos docentes considera ter nada ou muito pouco acesso a oportunidades de lazer, enquanto outros 42% consideram este acesso como mediano e somente 20% dizem ter bom acesso a oportunidades de lazer.
3.2 Faz tratamento com medicamentos e outros procedimentos?
Um alto número de docentes diz fazer tratamento com medicamentos e outros procedimentos, representando quase a metade (49%) dos docentes.
3.3 Apresentou algum problema de saúde física ou mental que foi relacionado ao seu trabalho?
Quando questionados diretamente sobre problemas de saúde física ou mental relacionados ao trabalho, um alto número de docentes (45%) diz já ter apresentado um destes problemas.
3.4 os últimos seis meses, sentiu-se cansado ou esgotado freqüentemente?
A grande maioria dos docentes (78%) apontaram cansaço e esgotamento freqüentes nos últimos seis meses. Nas entrevistas identificamos o início dos períodos letivos, os finais de semestre e o final de ano como momentos onde este cansaço e esgotamento são mais intensos.
3.5 Usa algum medicamento estimulante?
Uma das formas encontradas para combater este cansaço e esgotamento é o uso de medicamentos estimulantes ou tranqüilizantes. Quanto aos medicamentos estimulantes, 17% dos docentes dizem que o utilizam, sendo que destes, quase a metade sem receita médica.
3.6 Usa algum medicamento calmante ou tranqüilizante?
Já 21% dos docentes fazem uso de algum medicamento calmante ou tranqüilizante, sendo a maioria com receita médica.
3.7 Usa algum medicamento antidepressivo?
Um alto número de docentes (20%) diz utilizar medicamento antidepressivo, sendo a maioria com receita médica. É importante correlacionar este dado com o forte índice de assédio moral e pressão no trabalho, fatores que geralmente desencadeiam processos depressivos intensos.
3.8 Nos últimos seis meses, vem apresentando dificuldades de concentração ou de memória?
Os problemas de memória e de sono, bem como sinais de ansiedade e forte tensão foram também relatados durante as entrevistas.
3.9 Nos últimos seis meses, teve dificuldades para dormir?
59% dos entrevistados disseram que usam.
3.10 Usa algum medicamento para auxiliar no sono?
16% disseram que sim; destes; 4% sem receita médica.
3.11 Com que freqüência você sente que não dará conta de todas as coisas que tem que fazer?
É significativo o número de docentes que acreditam que não conseguirão cumprir todas as suas atividades diárias: 42%. Isto pode ser indicativo da reação ao excesso de tarefas cotidianas, associado a um excesso de cobranças por desempenho, que podem levar à sensação de insatisfação ou ineficiência na realização das tarefas cotidianas e do trabalho, e por fim ao esgotamento profissional.
3.12 Nos últimos seis meses, vem percebendo que está irritado, de mau humor ou impaciente?
41% disseram que sempre/freqüentemente; 39%, às vezes; 20%, nunca.
3.13 Nos últimos seis meses, percebe-se preocupado ou ansioso?
54% disseram que freqüentemente; 32%, às vezes.
3.14 Nos últimos seis meses, vem se sentindo triste, infeliz ou deprimido?
Nunca, 38%; às vezes, 33%; sempre, 29%.
3.15 Apresenta algum destes problemas relacionados a questões emocionais ou mentais?
Ansiedade, 33%; estresse, 35%; depressão, 11% e spindrome do pânico, 3%.
3.16 Sentiu dores no corpo após um dia de trabalho nas últimas duas semanas?
71% disseram que sim. A respeito de outras manifestações de problemas de saúde temos como principais a rouquidão e perda de voz (49%), a tendinite e problemas de articulação (44%), as enxaquecas (33%), as gastrites (27%), a obesidade (23%), a hipertensão (19%) e por último os cânceres (2%).
3.17 Já trabalhou com algum tipo de dor?
85% disseram que sim.
3.18 Nos últimos dois meses, vem sentindo dores freqüentes?
Aqui podemos ter melhor idéia de quais são as partes do corpo mais atingidas pela carga de trabalho cotidiana, sendo mais de 60 % das dores concentradas nas costas, cabeça, pernas e pés e as demais em ombros, braços e mãos. Importante frisar que apenas 9% das pessoas não apresentam dores freqüentes no período dos últimos
dois meses. A questão da freqüência indica ser algo que faz parte da rotina destes profissionais o lidar com a dor em uma ou mais partes do corpo, fazendo com que estes busquem formas de aliviá-las através do uso de medicamentos, como já vimos, anteriormente. Entretanto, uma vez que os fatores geradores da dor e do estresse
não são modificados, muitas vezes vemos a busca por diferentes métodos e a intensificação do adoecimento.
3.19 Voz: Nos últimos seis meses, apresentou rouquidão ou ficou sem voz?
49% disseram que sim.
3.20 Qualidade de Vida - Você tem se sentido constantemente esgotado e sob pressão?
Sobre a percepção de esgotamento e do estar sob pressão, temos que 47% notaram um aumento nos momentos em que se sentem desta forma, contra apenas 13% que não sentem nenhum tipo pressão ou esgotamento. Reiteramos que para os demais 40%, elas estão presentes, mas apenas não notam uma alteração em sua freqüência ou intensidade.
3.21 Nos últimos três meses, passou por algum tipo de dificuldade financeira grave?
Cerca de 1/3 dos docentes afirma ter enfrentado algum tipo de dificuldade financeira grave nos últimos 3 meses. Fator que apresenta relação com sofrimento emocional mas que neste cenário não aparece como determinante. O sofrimento mental dos docentes está diretamente relacionado com seu trabalho.
3.22 Vivenciou ou presenciou situação de violência dentro da escola?
Quase um em cada cinco docentes afirmam ter vivenciado ou presenciado situação de violência dentro da escola. Este índice é preocupante pois representa um fator que vem se somar em um processo de desgaste físico e mental, de ruptura de relações no trabalho e de um mal estar do trabalho docente que formam um conjunto complexo. Em um contexto de trabalho que agrava a saúde dos professores, situações de violência
tendem a dificultar ainda mais este quadro.
24 de jul. de 2009
Seu professor está adoecendo
Postado por
Demétrio de Azeredo Soster
às
18:55
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