
Vejamos o que diz uma das (são duas) manchetes deste domingo, 28 de fevereiro:
"Tremor de 8,8 graus atinge o Chile".
Extremamente relevante para quem, como você e eu, foi resgatado há pouco do meio do que restou da floresta Amazônica, e que estava, portanto, longe de tudo e de todos.
Sim, porque o RESTO do Brasil e do mundo sabia, desde ontem à noite, pelo menos, que o tal terremoto havia ocorrido; que a situação era séria etc. etc.
Como? Pela tevê, rádio, sites, blogs, twitter etc.
Se considerarmos que esse jornal publica, nessa mesma edição, manchete que concorre, na mesma forma e proporção, com a do terremoto, sou obrigado a perguntar aos que, como você e eu, não estavam perdidos na floresta, por que é que (ainda) assinam/compram um jornal cuja manchete, digamos assim, é velha e saturada?
Por outro lado, um pouco mais adiante, na página A8, editoria Brasil, a matéria de abertura informa:
"Novo projeto deixa Folha mais fácil de ler".
A linha de apoio esclarece:
"Mudanças gráficas estudadas há mais de seis meses estreiam em maio e devem tornar o jornal mais acessível e agradável".
A explicação:
"Diante do caos informativo, reforma será instrumento para alcançar um produto mais sintético na forma e mais analítico no conteúdo".
Concordo: o caminho, para os impressos, parece apontar na direção da análise e da interpretação, além dos elementos de ordem imagética, coisa que as revistas sabem desde há muito.
Mas também para as lições mais elementares do jornalismo.
Qual seja, que jornal serve para informar; e que informação, quando o assunto é jornalismo, requer algum esforço que não apenas a simples constatação do que é óbvio e que está, portanto, posto.
É mais ou menos como o sujeito aquele da crônica que passou a vida inteira tentanto descobrir qual a melhor forma de armazenar suco de laranja, até descobrir que era dentro da própria laranja.