11 de fev. de 2010

Solidariedade retroativa

Estou com um problema relativamente complicado.

Na verdade, dois.


Há alguns meses, ainda no inverno, dois pinhões do pacote que comprei no supermercado tiveram um destino menos cruel que meu êstomago: foram enterrados em um vaso da sala aqui de casa.

Tempo vai, tempo vem, e eis que, lá pelas tantas, dois brotos emergem da terra e se transformam, lenta, porém gradualmente, em pés de pinheiro.

Araucárias angustifolia, para sermos mais específicos.

Até aí tudo bem: comprovou-se o que Lèvy disso há séculos, ou seja, que uma semente é uma árvore do ponto de vista virtual.

Em o sendo, tem tudo para tornar-se uma árvore, a menos que haja alguns problema no transcurso (ser comida, por exemplo).

Mas a questão é: o que faço agora com as duas (lindas) criaturas que estão lá na sala?

Devo doar para algum amigo que tenha pátio em casa? Para a escola de meu filho? Seria didático.

Ou, pura e simplesmente, deixá-los crescer à revelia?

Nas primeiras duas hipóteses, sentirei saudades.

Na terceira, seria cruel com os sobreviventes: moro em apartamento, e apartamentos, sabemos, não combinam com pinheiros.

Gozado isso: há muitos anos, uma crônica que li falava de uma semente de manga enfiada ao acaso em um vaso de uma sacada qualquer do Rio de Janeiro.

Não lembro o que aconteceu daquela feita, mas acabo de descobrir que a solidariedade pode ser retroativa.

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