As fotos abaixo foram capturas do site de Zero Hora e são de autoria de Fernando Ramos (acampamento e soldado sendo carregado) e Valdir Friolin (do velório).
Estão relacionadas à retirada, por parte da Brigada Militar, ainda na sexta-feira, dos colonos sem-terra que haviam invadido a Fazenda Southall, em São Gabriel, e que resultou na morte, com um tiro nas costas, no confronto, do sem-terra Elton Brum da Silva, 44.
Algumas pessoas têm me perguntado o que acho disso tudo.
Tenho dito que sinto vergonha de um estado que não instrumentaliza e treina adequadamente sua própria polícia para ações desta natureza; de um estado inoperante justamente onde deveria ser mais propositivo.
Que sinto vergonha quando percebo que neste país, reforma agrária (ainda) é algo da ordem do imaginário, e que há tanta gente sem terra e tão poucos com terra, e que são poucos dentre eles os que fazem uso adequado dela.
Que me envergonho igualmente quando observo movimentos sociais exporem seus próprios membros (homens, mulheres e crianças) à violência, apostando, quem sabe, no que isso pode gerar em termos de repercussão, à medida que desobedecem decisões judicias e optam pelo confronto, sabendo-o inevitável.
Que sinto vergonha por saber que isso está ocorrendo em meu País, e que não vai mudar tão cedo.
23 de ago. de 2009
Das coisas que me envergonho
Postado por
Demétrio de Azeredo Soster
às
00:07
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Reforma Agrária,
São Gabriel,
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3 comentários:
Também fico muito triste e envergonhada com coisas assim, Demétrio. Sou natural de São Gabriel, hoje não moro lá, mas atuei na imprensa gabrielense por sete anos e pude acompanhar in loco o início dos conflitos agrários envolvendo as terras de Southall. Sei que não há só anjinhos em todos os lados dessa história, mas também penso como você que a origem de tudo isso está nas falhas envolvendo a Reforma Agrária nesse país.
Acredito que a minha vergonha ficou mais potencializada nos últimos tempos - principalmente nos últimos meses que não venho fazendo nada - com o meu contato com filmes antigos, livros esquecidos, sinopses de novelas feitas há trocentos anos... e perceber que (quase) nada mudou. Pelo menos, no quesito iniciativa para acelerar esse tipo de questão.
Sou também natural de São Gabriel. Uma morte, em qualquer circunstância, é sempre lamentável.
No entanto, uma coisa é preciso que se diga: Quem comete crimes (e invasões sao crime), está sujeito à ação repressora do Estado.
A morte deste homem em São Gabriel é uma tragédia hedionda. Como foi hediondo o assassinato de quatro reféns do MST numa invasão no Paraná. Na época, o ministro Tarso Genro disse que não houve crime, apenas "uma ação mais ousada".
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