O trecho abaixo é o excerto de uma entrevista que o professor José Luiz Braga, do PPGCom da Unisinos, concedeu à bolsista de iniciação científica do programa Luísa Schenato. O texto foi publicado no site Midiatização e Eventos Sociais. Acesse a entrevista completa por aqui.
"Penso sobretudo "midiatização" como processo. Não se trata de enfatizar os meios eletrônicos (como se "estudar midiatização" fosse "estudar os meios" ou o desenvolvimento tecnológico). Mas sim o fato de que os processos interacionais da sociedade se tornam crescentemente midiatizados. Escrevi um artigo em que observo a tendência atual de se instalarem como "processo interacional de referência", em substituição ao livro e à escrita impressa.
Esta questão se relaciona às percepções vigentes sobre o que caracteriza o campo de estudos em Comunicação. É inegável, aí, uma presença intensa da mídia como objeto de observação. Assim, é possível assumir a posição de que "estudar a mídia" é o que define o campo. Nesse âmbito, cabe afirmar que "midiatização", como objeto, corresponde a estar atento aos processos da mídia, em suas peculiaridades. Certamente.
Por outro lado, cria-se aí um problema interessante, que é o de definir o que seja "mídia". Para alguns, são os meios de comunicação com alto insumo tecnológico, e que tipicamente envolvem os processos audiovisuais. Outros enfatizam, na mídia, os processos empresariais, industriais.
Outros, ainda, assumem uma perspectiva bem mais abrangente - chegando ao nível holístico, em que "tudo é mídia" - a roupa, a dança, toda sorte de próteses, os gestos as expressões faciais, o corpo, os ambientes arquitetônicos... É claro que isso não ajuda muito - porque, se é verdade que tudo pode participar de comunicações específicas, não decorre daí que tudo seja comunicação, ou que todas essas participações tenham igual peso. Na afirmação abrangente, perdemos especificidade. Outro problema associado é o de uma afirmação genérica de que tal coisa "é mídia" - mas depois estudá-la nos seus aspectos mais habituais e vinculados a outras disciplinas do conhecimento. Ora, se eu faço um estudo sobre investimento e lucro nas empresas de televisão, estou fazendo "economia" e não "comunicação" (mesmo que os resultados desse estudo possam nos interessar).
Assim, mais que o foco na mídia, assumo como central, a processualidade interacional. Mas aí, preciso explicar porque a mídia (e particularmente a mídia contemporânea, eletrônica) é tomada tão obsessivamente como nosso objeto de observação - uma vez que os processos interacionais também ocorrem fora dela. Com isso, chego à perspectiva de que a mídia interessa não porque seja o objeto metodológico caracterizador dos estudos de Comunicação, mas por outras duas razões. A primeira, é porque foi o desenvolvimento da mídia contemporânea que viabilizou uma percepção dos fenômenos comunicacionais de modo distinto de outros fenômenos sociais. A segunda, porque historicamente está se estabelecendo como "processo interacional de referência". Essa situação em processo é que se caracterizaria como a "midiatização" da sociedade."
7 de mai. de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário