Quando comprei este livro, confesso que esperava algumas coisas bem diferentes do que acabei por encontrar.
Esperava, em primeiro lugar, que a biografia fosse de natureza jornalística (comprei em um pacote, sem prestar atenção no óbvio), e que se encaixasse, portanto, na pesquisa que estou realizando sobre jornalismo diversional.
Em o sendo, e conhecendo bem o personagem (eu e a torcida do Flamengo, diga-se), que o fizesse nos moldes dos livros deste gênero, qual seja, com capítulos construídos a partir de critérios como singularidade; com uma linha de tempo estabelecida a partir da importância que os eventos se sucediam na narrativa e por aí afora.
O que encontrei em Minha Fama de Mau (Objetiva, 2009), no entanto, foi algo bem diferente.
A começar pelo fato que o narrador é um misto de protagonista e testemunha, ou seja, é o próprio Erasmo Tremendão Carlos quem comanda as tintas. Em primeiro pessoa.
Por ser assim, e por se tratar de sua própria vida - e aqui o público e o privado se misturam o tempo inteiro -, ele escreve literalmente sobre o que acha importante, e não necessariamente sobre o que pode ser considerado importante do ponto de vista de quem lê.
Assim, o texto, mais que uma autobiografia, é uma espécie de diário íntimo da vida de Erasmo Carlos.
Talvez isso explique, quem sabe, porque achei o livro beeeeem chato até a metade (sabe o cara que, apesar das dificuldades, sempre se dá bem e come um monte de guriazinhas e outras nem tanto e ainda por cima faz sucesso? É o caso.) e beeem interessante daí para a frente (quando a parte artística entra em cena com mais ênfase).
Saliento este aspecto porque ele possibilita, a um leitor desavisado, que não se olhe com mais atenção as informações do texto, como se efetivamente fosse algo apenas da ordem do umbigo de quem escreve, auto-centrado demais.
Trata-se, a biografia, na verdade, de um registro muito importante do cenário cultural que Erasmo, Roberto e tantos outros, Carlos ou não, construíram; cenário este que criou a base para o que entendemos hoje por Música Popular Brasileira em sua confluência com o rock. Ao lado, claro, das vertentes mais tradicionais, tipo samba, choro etc.
Isso fica claro, por exemplo, quando do encontro da Jovem Guarda (que estava acabando) com o povo da Tropicália (que começava a nascer), lá pela página 195.
Os juízes de plantão vaiaram os primeiros e aplaudiram os segundos; chamando aqueles de reacionários e estes de vanguarda, modernos.
Já os protagonistas - de um lado Erasmo, Roberto Carlos e Wanderléia; de outro, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque - compreenderam como poucos o que estava acontecendo. Sobretudo, respeitaram-se.
Isso para ficarmos em apenas um exemplo.
Vale a pena ler o livro. É uma obra sincera, que se expõe sem receitos e que fala de um dos personagens mais importantes no cenário artístico nacional a partir dele mesmo.
E que poderia, insisto, ser mais ampla, caso tivesse sido delegada a um olhar especialista (Fernando Moraes, por exemplo).
Mas aí talvez estivéssemos falando de outro livro.
14 de jan. de 2010
Minha fama de mau
Postado por
Demétrio de Azeredo Soster
às
15:17
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