14 de jan. de 2010

Minha fama de mau

Quando comprei este livro, confesso que esperava algumas coisas bem diferentes do que acabei por encontrar.

Esperava, em primeiro lugar, que a biografia fosse de natureza jornalística (comprei em um pacote, sem prestar atenção no óbvio), e que se encaixasse, portanto, na pesquisa que estou realizando sobre jornalismo diversional.

Em o sendo, e conhecendo bem o personagem (eu e a torcida do Flamengo, diga-se), que o fizesse nos moldes dos livros deste gênero, qual seja, com capítulos construídos a partir de critérios como singularidade; com uma linha de tempo estabelecida a partir da importância que os eventos se sucediam na narrativa e por aí afora.

O que encontrei em Minha Fama de Mau (Objetiva, 2009), no entanto, foi algo bem diferente.

A começar pelo fato que o narrador é um misto de protagonista e testemunha, ou seja, é o próprio Erasmo Tremendão Carlos quem comanda as tintas. Em primeiro pessoa.

Por ser assim, e por se tratar de sua própria vida - e aqui o público e o privado se misturam o tempo inteiro -, ele escreve literalmente sobre o que acha importante, e não necessariamente sobre o que pode ser considerado importante do ponto de vista de quem lê.

Assim, o texto, mais que uma autobiografia, é uma espécie de diário íntimo da vida de Erasmo Carlos.

Talvez isso explique, quem sabe, porque achei o livro beeeeem chato até a metade (sabe o cara que, apesar das dificuldades, sempre se dá bem e come um monte de guriazinhas e outras nem tanto e ainda por cima faz sucesso? É o caso.) e beeem interessante daí para a frente (quando a parte artística entra em cena com mais ênfase).

Saliento este aspecto porque ele possibilita, a um leitor desavisado, que não se olhe com mais atenção as informações do texto, como se efetivamente fosse algo apenas da ordem do umbigo de quem escreve, auto-centrado demais.

Trata-se, a biografia, na verdade, de um registro muito importante do cenário cultural que Erasmo, Roberto e tantos outros, Carlos ou não, construíram; cenário este que criou a base para o que entendemos hoje por Música Popular Brasileira em sua confluência com o rock. Ao lado, claro, das vertentes mais tradicionais, tipo samba, choro etc.

Isso fica claro, por exemplo, quando do encontro da Jovem Guarda (que estava acabando) com o povo da Tropicália (que começava a nascer), lá pela página 195.

Os juízes de plantão vaiaram os primeiros e aplaudiram os segundos; chamando aqueles de reacionários e estes de vanguarda, modernos.

Já os protagonistas - de um lado Erasmo, Roberto Carlos e Wanderléia; de outro, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque - compreenderam como poucos o que estava acontecendo. Sobretudo, respeitaram-se.

Isso para ficarmos em apenas um exemplo.

Vale a pena ler o livro. É uma obra sincera, que se expõe sem receitos e que fala de um dos personagens mais importantes no cenário artístico nacional a partir dele mesmo.

E que poderia, insisto, ser mais ampla, caso tivesse sido delegada a um olhar especialista (Fernando Moraes, por exemplo).

Mas aí talvez estivéssemos falando de outro livro.

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