10 de dez. de 2011

Um dia feliz às vezes é muito raro

Talvez você não compreenda, mas hoje, ao final da tarde, no Parque da Gruta, aqui em Santa Cruz do Sul, havia uma luz diferente na tarde que se esvaia lentamente entre os ramos das árvores.

Eu e Pedro havíamos parado para descansar. Estávamos pedalando havia algum tempo e ele, mesmo sentado em sua cadeira de carona, estava cansado. Queria esticar as pernas. Tomar um pouco de água. Respirar, enfim.

Em um determinado momento, um macaco-prego desceu das árvores e chegou bem perto de onde estávamos.

Pela primeira vez na vida, entre Pedro e um animal selvagem não havia uma grade, nem uma placa dizendo o que deveria ser feito, apenas duas criaturas de mundos diferentes, sentindo-se.


Momentos depois, à beira de um riacho, deparei-me com o menino olhando fixo para a água corrente.

Lembrei-me dos dias distantes de minha infância, mas também que Pedro nunca havia sequer tocado em um riacho, rio ou mesmo lago: o mais perto disso foi a lâmina d'água de alguma praça, a piscina irritantemente azul de alguma casa ou clube.

O convite saiu de pronto:

- Filho, você quer molhar as mãos na água?

- Quero!

E assim foi: Pedro, três anos depois de ter nascido, por alguns momentos, sentiu em sua pele, pela primeira vez, a vida vertendo em fluxos, gelada, límpida, viva.


Há um verso de uma música, da qual gosto muito, acho que do Jota Quest, que diz mais ou menos assim: "Um dia feliz, às vezes é muito raro; viver é complicado, quero uma canção, fácil, extremamente fácil, pra você, eu e todo mundo cantarmos juntos".

Acho que é isso.

2 comentários:

Ângela disse...

Demétrio, que lindo esse teu post/crônica. Como desejamos para nossos filhos experiências semelhantes às (boas) vivências que tivemos na infância, mesmo o mundo sendo outro.

Demétrio de Azeredo Soster disse...

obrigado, ângela. de fato, nosso futuro sempre tem uma perspectiva de passado.