O artigo abaixo foi veiculado à página 6 da edição de hoje, 28/2, editoria de Opinião, do jornal Gazeta do Sul, de Santa Cruz do Sul.
"É comum ouvirmos, mesmo entre os que já frequentaram os bancos escolares em nível de graduação, que, para se aprender uma profissão, é preciso praticá-la, e que prática não se aprende em sala de aula, mas no exercício da profissão. À sala de aula caberia, nessa perspectiva, a “transmissão” de conteúdos teóricos aos alunos. E tão somente.
Trata-se de uma afirmação perigosa essa, à medida que a) revela desconhecimento do que significa a formação superior e b) instaura um abismo perigoso entre o pensar e o fazer decorrente do conhecimento que se constrói nas universidades.
Observemos o caso do ensino de Comunicação, à revelia da habilitação de que estejamos falando.
Para se tornar um jornalista, publicitário, relações públicas, produtor em mídia audiovisual ou técnico superior em fotografia, para ficarmos nas oferecidas pela Unisc, é preciso, claro, tanto um aporte teórico substancial sobre especificidades da profissão quanto de questões humanas mais largas. Mas também muita prática, sem a qual o conhecimento não se estabelece. Afinal, para constituir a práxis, é preciso teoria dando sentido à prática, e vice-versa.
Assim, o aluno de jornalismo, por exemplo, terá de aprender sobre teoria e história do jornalismo, seus preceitos éticos, morais, mas também terá de desenvolver a capacidade, ao longo do curso, de realizar edições de jornal e revista impressos, programas de rádio e televisão, blogs, webjornais, fotografia, planos e produtos de assessoria de imprensa e tantos outros mais.
O mesmo pode ser dito em relação à publicidade, relações públicas, produção em mídia audiovisual e tecnólogo superior em fotografia, observando-se as especificidades de cada uma. Sem falar, claro, dos projetos de extensão, pesquisa, experimentais, estágios e outros que são oferecidos a cada semestre e que exigem a aplicação dos conhecimentos construídos em aula por alunos e professores.
Por que isso? Porque, em uma apropriação livre do pensamento de Adelmo Genro Filho, estamos falando de profissões (ele se referia especificamente ao jornalismo) que se estabelecem, de forma dialética, a partir do que emerge da conjunção entre prática e teoria. E que fazem emergir, dessa aproximação, um terceiro nível de conhecimento, a profissão em si, que não abre mão, de maneira alguma, do que é teoria e do que é prática.
E é por isso que o mercado de trabalho em Comunicação, gaúcho e brasileiro, tem um particular apreço pelos alunos da Unisc, à revelia da habilitação, o que pode ser comprovado pelo fato de nossos egressos (e mesmo os que estão em via de se formar) usualmente não encontrarem maiores dificuldades quando na hora de serem contratados por organizações e instituições, privadas ou públicas.
Significa que a prática realizada pelos alunos é a que encontramos no mercado? Também, mas não apenas. Ou seja, preparamos nossos estudantes para exercer seus futuros ofícios a partir das técnicas existentes. Mas também a irem mais adiante, a inovar, permitindo-lhes, dessa forma, contribuir, desde a sala de aula, para o aprimoramento do fazer comunicacional.
A isso chamamos prática acadêmica".
28 de fev. de 2011
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2 comentários:
Caprichou no artigo, professor!
Adorei!
Obrigado, Jaque!
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