19 de mar. de 2011

Auto e co-referência no jornalismo

A dissertação da agora mestre Aline Weschenfelder, defendida essa semana, na Unisinos, cuja pesquisa foi orientada por Christa Berger e que contou, além de mim, com Antônio Fausto Neto na argüição, faz uma importante constatação quando o assunto é reconfiguração do jornalismo: que os dispositivos (no caso, a revista Veja) reproduzem em seu interior as mesmas operações do sistema em que se inserem.

Esse movimento pode ser percebido, por exemplo, quando Veja referencia, no editorial, conteúdo da própria revista (páginas amarelas, reportagens especiais etc.), quando seria de se esperar que o fizesse junto ao ambiente externo em que o sistema midiático se insere. O que muda com isso? Passa-se a oferecer, dessa forma, aos seus leitores mais credibilidade (a constatação de Aline). Mas também, aos meus olhos, identidade em relação aos demais dispositivos do sistema midiático-comunicacional.

Observe-se, nesse sentido, que a autorreferencialidade, nos moldes propostos por Luhmann, é uma operação que o sistema realiza por meio da autopoiésis (por ela, a autorreferência deixa o âmbito estrutural para o operacional), entre outros, para a) reduzir sua complexidade, garantindo, dessa forma, sua própria manutenção e b)estabelecer, nesse processo, diferenças.

Em minha tese, defendi que, para além da auto-referência, o sistema midiático-comunicacional realiza em seu interior mais uma operação - a co-referência, uma forma de acoplamento que se estabelece, por exemplo, quando quando o conteúdo de um dispositivo "irrita" outro e este para a usar o primeiro como fonte, mantendo a operação, inicialmente, no âmbito do sistema midiático, para somente então interferir (e ser interferido) no meio em que se insere e nos demais sistemas.

É nesse ponto que percebo um avanço na disseração de Aline, intitulada "Aos leitores: as estratégias de autorreferencialidade no editorial de Veja": ela transfere a perspectiva descrita acima para o interior do próprio dispositivo, o que nos permite observar a geração se sentidos que se estabelece também nesse âmbito.

Compreender operações dessa natureza implica observar a midiatização, ou seja, a instauração de uma ambiência a partir de um cenário específico, de natureza tecnológica, mas também social e discursiva, que afeta o modo de ser dessa mesma sociedade. Se o faz, complexifica também o jornalismo, midiatizando-o, reconfigurando-o uma vez mais.

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